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A palavra dominante do quinto Domingo da Páscoa é “novo”. (Atos 14,21-27, Salmo 144, Apocalipse 21,1-5 e João 13,31-35). Lemos no Apocalipse: “Eu, João, vi um novo céu e uma nova terra...Vi a cidade santa, a nova Jerusalém... “Eis que faço novas todas as coisas”. Jesus ensina: “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros”. O novo é anunciado no contexto pascal, pois é da Páscoa de Cristo que nasce toda novidade. Este acontecimento é a fonte segura de todas as renovações.
A palavra novo tem significados diversos, desde os mais positivos até os mais negativos. Não se trata de novidade superficial, uma espécie de bolha de sabão ou do simples desejo de originalidade que logo se esvai. Nem se trata de coisas novas que resultam em mal. Trata-se da novidade que gera profundas e duradouras mudanças qualitativas para o bem da pessoa e de toda sociedade.
O Evangelho apresenta duas realidades novas. Jesus revela que “agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele”. Isto é dito quando Judas sai do Cenáculo para concretizar o plano da sua traição. A glorificação de Jesus a pela traição, paixão, morte e ressurreição. A glória de Deus é seu esplendor e a sua potência que se manifesta de forma plena no amor. O amor de Deus pelo mundo é tanto que enviou Jesus Cristo para salvá-lo. O máximo de amor é morrer por alguém, mais ainda quando se morre por pecadores. “A glória-amor se manifesta em toda a atividade de Jesus como doador de vida, mas alcança sua expressão suprema na cruz, quando Jesus aceita voluntariamente a morte por amor ao homem. A morte de Jesus é o momento culminante da sua hora anunciada em Caná, ingresso na sua glória celeste” (Mauro Orsatti).
A seguir Jesus ensina: “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros”. O mandamento do amor já era bem conhecido, mas a novidade é o acréscimo feito nele: “Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros”. Precisamente o novo é “amar como Jesus amou”. Todo nosso amor é precedido pelo seu amor e refere-se a este amor, insere-se neste amor, realiza-se precisamente por este amor. O Antigo Testamento não apresentava o modelo do amor, apenas formulava o preceito. Jesus deu-se como referência e fonte. Trata-se de um amor sem limites, universal, capaz de transformar todas as circunstâncias geradoras de morte em espaços onde a vida possa renascer.
O texto de Atos dos Apóstolos testemunha o desejo de propagar o nome de Jesus Cristo, fonte de toda novidade. São citadas sete cidades nas quais Paulo e Barnabé anunciam o Cristo glorificado e o novo mandamento do amor. Amar como Cristo amou é um desejo a ser cultivado permanentemente, mas transformar em fatos o amor é preciso percorrer um caminho bem penoso devido as fragilidades humanas. Por isso, Paulo e Barnabé propõe um sadio realismo para a vida cristã “encorajando os discípulos” a “permanecerem firmes na fé” e deixando claro que “é preciso que emos por muitos sofrimentos para entrar no Reino de Deus”. Este foi o caminho de Jesus: para a luz pela cruz. Convidam a fazer “orações e jejuns” para estarem em plena comunhão com Deus e dele receber a força necessária para amar em meio aos sofrimentos.
O livro do Apocalipse canta a glória dos que foram glorificados e renovados em Jesus Cristo. Ele quer reunir todos em seu amor na cidade santa, a Jerusalém celeste. Como nos convida o Ano Jubilar Peregrinos de Esperança trata-se da esperança maravilhosa, sólida e que não decepciona. “Esta é a morada de Deus entre os homens. Deus vai morar no meio deles... Deus enxugará toda lágrima dos seus olhos. A morte não existirá mais, e não haverá mais luto, nem choro, nem dor, porque ou o que havia antes. Aquele que está sentado no trono disse: Eis que faço novas todas as coisas”. A maior novidade é a ressurreição de Jesus. Ela é o início de toda uma série de “coisas novas” nas quais participam os humanos: um mundo repleto de alegria, sem abusos de qualquer natureza, nem rancor e ódio. Deus curou a violência sofrida pela misericórdia, o perdão e a paz. Deus “faz coisas novas” sem precisar destruir e matar.
Fonte: Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de o Fundo